A discussão nos leva naturalmente à consideração de Satanás e dos demônios, já que eles são anjos maus que anteriormente foram anjos bons, mas que pecaram e perderam o seu privilégio de servir a Deus. Iguais aos anjos, eles também são seres espirituais criados com juízo moral e com alta inteligência, mas sem corpos físicos. Podemos definir os demônios da seguinte e maneira: Os demônios são anjos maus que pecaram contra Deus e que agora operam continuamente o mal no mundo.
Quando Deus criou o mundo, ele “viu tudo o que havia feito, e tudo havia ficado muito bom” (Gn 1.3 1). Isso significa que mesmo o mundo angelical que Deus havia criado não possuía anjos maus nem demônios àquela altura. Mas, quando chegamos a Gênesis 3 , percebemos que Satanás, na forma de uma serpente, tentou Eva para que pecasse (Gn 3.1-5). Portanto, em um determinado tempo entre os eventos de Gênesis 1.31 e Gênesis 3.1 , deve ter havido uma rebelião no mundo angelical, com muitos anjos se voltando contra Deus e tornando-se maus.
O NT fala disso em dois lugares. Pedro nos diz que “Deus não poupou a anjos que pecaram, mas os lançou no inferno, prendendo-os em abismos tenebrosos a fim de serem reservados para o juízo” (2Pe 2.4) . Judas também diz que “quanto aos anjos que não conservaram suas posições de autoridade mas abandonaram sua própria morada, ele os tem guardado em trevas, presos com correntes eternas para o juízo do grande Dia” (Jd 6). Uma vez mais a ênfase recai sobre o fato de que eles são removidos da glória da presença de Deus e sua atividade é restringida (metaforicamente, eles estão em “correntes eternas”), mas o texto não sugere que a influência dos demônios tenha sido removida do mundo ou que alguns demônios sejam guardados em um lugar de punição à parte do mundo, enquanto outros são capazes de influenciá-lo.Ao contrário, tanto 2Pedro como Judas nos dizem que alguns anjos se rebelaram contra Deus e se tornaram oponentes hostis à sua palavra. O pecado deles parece ter sido o do orgulho, a recusa em aceitar seu lugar designado, pois eles “não conservaram suas posições de autoridade mas abandonaram sua própria morada” (Jd 6).
É também possível que haja uma referência à queda de Satanás, o príncipe dos demônios, em Isaías 14 . Conforme Isaías descreve o juízo de Deus sobre o rei da Babilônia (um rei humano, terreno), ele chega à seção onde começa a usar uma linguagem que parece forte demais para referir-se meramente a um ser humano:
Como você caiu dos céus, ó estrela da manhã, filho da alvorada! Como foi atirado à terra, você, que derrubava as nações! Você, que dizia no seu coração: ‘Subirei aos céus; erguerei o meu trono acima das estrelas de Deus; eu me assentarei no monte da assembléia, no ponto mais elevado do monte santo. Subirei mais alto que as mais altas nuvens; serei como o Altíssimo’. Mas às profundezas do Sheol você será levado, irá ao fundo do abismo! (Is 14.12-15; cf. Ez 28.11-19).
Essa linguagem de subir ao céu e assentar-se no trono acima das estrelas e dizer “serei semelhante ao Altíssimo” sugere enfaticamente a rebelião de uma criatura angélica de grande poder e (isso não significa que esses anjos pecaminosos não exerçam atualmente influência no mundo, pois no versículo 9 Pedro diz que o Senhor também “sabe livrar os piedosos da provação e manter em castigo os ímpios para o dia de juízo”, referindo-se aos seres humanos pecaminosos que obviamente ainda tinham influência no mundo e até causam problema para os leitores de Pedro. O versículo 4 simplesmente significa que os anjos ímpios haviam sido removidos da presença de Deus e permanecem guardados debaixo de alguma espécie de influência restritiva e até o juízo final, o que, entretanto, não anula a sua atividade contínua no mundo nesse meio-tempo.)dignidade. Não seria incomum para a linguagem profética hebraica passar das descrições de eventos humanos para descrições de eventos celestiais que lhes são paralelos e que os eventos da terra ilustram de modo limitado. Se assim for, então o pecado de Satanás é descrito como orgulho e tentativa de ser igual a Deus em posição e autoridade.
Satanás como cabeça dos demônios
“Satanás” é o nome pessoal do cabeça dos demônios. Esse nome é mencionado em Jó 1.6, onde “os anjos vieram apresentar-se ao SENHOR, e Satanás também veio com eles” (v. tb. Jó 1.7—2.7). Aqui ele aparece como o inimigo do Senhor que traz severas provações para Jó. De modo semelhante, ao final da vida de Davi, “Satanás levantou-se contra Israel e levou Davi a fazer um recenseamento do povo” (1 Cr 21.1). Além disso, Zacarias teve uma visão do “sumo sacerdote Josué diante do anjo do SENHOR, e Satanás, à sua direita, para acusá-lo” (Zc 3.1). O nome “Satanás” é uma palavra hebraica (sãtãn) que significa “adversário”. O NT também usa o nome “Satanás”, tomando-o simplesmente do AT. Assim, Jesus, em sua tentação no deserto, fala a Satanás diretamente, dizendo: “Retire-se, Satanás!” (Mt 4.10), ou “Eu vi Satanás caindo do céu como relâmpago” (Lc 10.18).
A Bíblia usa também outros nomes para Satanás. Ele é chamado: “Diabo” (somente no NT: Mt 4.1; 13.39; 25.41; Ap 12.9; 20.2; etc.); ”serpente” (Gn 3.1,14; 2Co 11.3; Ap 12.9; 20.2); ”Belzebu” (Mt 10.25; 12.24,27; Lc 1 l.15); ”o príncipe deste mundo” (Jo 12.31; 14.30; 16.1 l), ”príncipe do poder do ar” (Ef 2.2), ou “o Maligno” (Mt 13.19; 1Jo 2.13). Quando Jesus diz a Pedro: “Para trás de mim, Satanás! Você é uma pedra de tropeço para mim, e não pensa nas coisas de Deus, mas nas dos homens” (Mt 16.23), ele reconhece que a tentativa de Pedro de tentar preservá-lo do sofrimento e da agonia da cruz é realmente uma tentativa de impedir Jesus de obedecer ao plano de seu Pai. Jesus percebe que a oposição, em última instância, não vinha de Pedro, mas do próprio Satanás.
A atividade de Satanás e dos demônios
Satanás foi o originador do pecado.
Satanás pecou antes de os seres humanos terem caído, como fica evidente no fato de que ele (na forma de uma serpente) tentou Eva (Gn 3.1-6; 2Co 11.3). O NT também nos informa que Satanás “foi homicida desde o princípio” e que ele é ”mentiroso e pai da mentira” (Jo 8.44). Ele diz igualmente que o Diabo “vem pecando desde o princípio” (lJo 3.8). Em ambos os textos, a frase “desde o princípio” não sugere que Satanás tenha sido mau desde o tempo em que Deus começou a criar o mundo (“desde o princípio do mundo”) ou desde o começo de sua existência (“do princípio de sua vida”), mas sim desde o começo da história do mundo (Gn 3 e mesmo antes). A característica do Diabo tem sido a de originar o pecado e a de induzir outros a pecar.
Os demônios se opõem e tentam destruir, toda obra de Deus.
Assim como Satanás induziu Eva a pecar contra Deus (Gn 3.1-6), ele também induziu Jesus a pecar para que falhasse na sua missão como Messias (Mt 4.1-11). As táticas de Satanás e seus demônios são as de usar as mentiras (Jo 8.44), o engano (Ap 12.9), o assassinato (Sl 106.37; Jo 8.44) e qualquer outra espécie de atividade destrutiva para provocar nas pessoas o abandono de Deus e a destruição delas próprias. Os demônios tentarão toda tática para cegar as pessoas para o evangelho (2Co 4.4) e mantê-las em escravidão às coisas que as impedem de vir a Deus (Gl 4.8). Eles também usarão tentação, dúvida, culpa, temor, confusão, doença, inveja, orgulho, calúnia ou quaisquer outros meios para impedir o testemunho e a utilidade dos cristãos.
Os demônios são limitados pelo controle de Deus e têm poder limitado.
A história de Jó deixa claro que Satanás poderia fazer somente o que Deus lhe deu permissão para fazer, e nada mais (Jó 1.12; 2.6). Os demônios estão presos “com correntes eternas” (Jd 6) e podem ser vitoriosamente rechaçados pelos cristãos por meio da autoridade que Cristo lhes dá (Tg 4.7: “ Resistam ao Diabo, e ele fugirá de vocês”).
Além disso, o poder dos demônios é limitado. Após rebelarem-se contra Deus, eles não têm o poder que tinham quando eram anjos, porque o pecado é influência enfraquecedora e destrutiva.
O poder dos demônios, embora significativo, é provavelmente menor que o poder dos anjos.
Na área do conhecimento, não devemos pensar que os demônios podem conhecer o futuro ou que eles possam ler nossa mente ou conhecer nossos pensamentos. Em muitos lugares no AT, o Senhor revela-se como o Deus verdadeiro em contraposição aos deuses (demoníacos) das nações pelo fato de que ele somente pode conhecer o futuro : “Lembrem-se das coisas passadas, das coisas muito antigas! Eu sou Deus, e não há nenhum outro; eu sou Deus, e não há nenhum como eu. Desde o início faço conhecido o fim, desde tempos remotos, o que ainda virá” (Is 46.9,10). Nem mesmo os anjos conhecem o tempo do retorno de Jesus (Mc 13.32) , e também não há indicação na Escritura de que eles ou os demônios conheçam qualquer outra coisa a respeito do futuro.
Com respeito a conhecer os nossos pensamentos, a Bíblia nos diz que Jesus conhecia os pensamentos das pessoas (Mt 9.4; 12.25; Mc 2.8; Lc 6.8; 11.17) e que Deus conhece os pensamentos das pessoas (Gn 6.5; Sl 139.2,4,23; Is 66.18), mas não há indicação de que anjos ou demônios possam conhecer os nossos pensamentos. De fato, Daniel disse ao rei Nabucodonosor que nenhuma pessoa falando por outro poder que não o de Deus poderia dizer ao rei o que ele havia sonhado (v. Dn 2.27,28). Mas se os demônios não podem ler a mente das pessoas, como haveremos de entender os relatórios recentes dos bruxos, dos que lêem a sorte ou de outros evidentemente sob influência demoníaca que são capazes de dizer às pessoas os detalhes de sua vida que elas pensavam que ninguém sabia, como, por exemplo, o que haviam comido no café da manhã ou onde haviam guardado secretamente algum dinheiro em sua casa? A maioria dessas coisas pode ser explicada pela percepção de que os demônios podem observar o que acontece no mundo e, provavelmente, deduzir algumas conclusões de suas observações. Um demônio pode saber o que eu comi no café-da-manhã simplesmente por me ver tomando o café-da-manhã! Ele pode saber o que eu disse em uma conversa particular de telefone porque ele ouviu a minha conversa. Os cristãos não devem deixar-se iludir se encontrarem membros do ocultismo ou de outras falsas religiões que parecem demonstrar tal conhecimento de vez em quando. Esses resultados da observação não provam que os demônios possam ler os nossos pensamentos e nada na Bíblia nos leva a pensar que eles tenham esse poder.
Nossa relação com os demônios
Os demônios são ativos no mundo hoje?
Algumas pessoas, influenciadas pela cosmovisão naturalista que somente admite a realidade do que pode ser visto, tocado ou ouvido, negam que os demônios existam hoje. Eles sustentam que anjos e demônios são simplesmente mitos que pertencem à cosmovisão obsoleta ensinada na Bíblia e em outras culturas antigas.
Se, entretanto, a Escritura nos dá o relato verdadeiro do mundo como ele realmente é, então temos de levar a sério sua descrição do intenso envolvimento demoníaco na sociedade humana. Nosso compromisso com os cinco sentidos meramente nos diz que temos algumas deficiências em nossa capacidade de entender o mundo, mas não que os demônios não existam. De fato, não há razão alguma para pensar que há menos atividade demoníaca no mundo hoje do que houve no tempo do NT. Estamos no mesmo período do plano global de Deus para a história (a época da igreja ou a época da nova aliança), e o milênio, quando a influência de Satanás será removida da terra, ainda não veio. Da perspectiva bíblica, a recusa da sociedade moderna em reconhecer a presença da atividade demoníaca hoje deve-se simplesmente à cegueira das pessoas para a verdadeira natureza da realidade.
Mas em que espécie de atividade os demônios estão envolvidos hoje? Há algumas características distintivas que vão nos capacitar a reconhecer a atividade demoníaca quando ela ocorrer?
Nem todo mal e pecado procedem de Satanás e demônios, mas em alguns casos sim.
Se temos a visão da ênfase global das cartas do NT, percebemos que pouco espaço é dado à discussão da atividade demoníaca na vida dos crentes ou aos métodos para resistir e se opor a tal atividade. A ênfase é dizer aos crentes para não pecar, mas viver retamente. Por exemplo, em lCoríntios , quando há o problema das “divisões”, Paulo não diz à igreja para repreender o espírito de divisão , mas simplesmente incita-os a viver concordemente e a serem “unidos num só pensamento e num só parecer” (lCo 1.10). Quando há um problema de incesto, ele não diz aos coríntios para repreenderem um espírito de incesto, mas diz que eles exercessem disciplina para que o ofensor se arrependesse (lCo 5.l-5). Esses exemplos poderiam ser duplicados muitas vezes em outras cartas do NT.
Portanto, embora o NT claramente reconheça a influência da atividade demoníaca no mundo, e mesmo, como veremos, sobre a vida dos crentes, seu foco primário a respeito do crescimento cristão não é a atividade demoníaca, mas as escolhas e ações feitas pelos cristãos (v. tb. Gl 5.16-26; Ef 4.1—6.9; Cl 3.1—4.6 etc.). Similarmente, esse deveria ser o foco principal de nossos esforços hoje, quando lutamos por crescer em santidade e fé, para vencer desejos e ações pecaminosos que permanecem em nossa vida (cf. Rm 6.1-23) e superar as tentações que vêm contra nós provenientes do mundo descrente (lCo 10.13). Precisamos aceitar nossa responsabilidade de obedecer ao Senhor e não culpar as forças demoníacas por nossos atos errados.
Não obstante, várias passagens mostram que os autores do NT estavam definitivamente cônscios da presença da influência demoníaca no mundo e na vida dos cristãos. Paulo advertiu Timóteo que nos últimos dias alguns “abandonarão a fé e seguirão espíritos enganadores e doutrinas de demônios” (1Tm 4.1) e que isso levaria a idéias de proibir o casamento e proibir certas comidas (v. 3), coisas boas que Deus criou para serem recebidas com ações de graça (v. 4). Portanto, ele considerou alguns ensinos falsos como de origem demoníaca. Em 2Timóteo , Paulo sugere que os que se opunham à sã doutrina eram mantidos em cativeiro pelo demônio para cumprirem a vontade dele: “Ao servo do Senhor não convém brigar mas, sim, ser amável para com todos, apto para ensinar, paciente. Deve corrigir com mansidão os que se lhe opõem, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento, levando-os ao conhecimento da verdade, para que assim voltem à sobriedade e escapem da armadilha do Diabo, que os aprisionou para fazerem a sua vontade” (2Tm 2.24-26).
Semelhantemente Jesus havia asseverado que os judeus que tinham se oposto de modo obstinado a ele estavam seguindo ao seu pai, que é o Diabo: “Vocês pertencem ao pai de vocês, o Diabo, e querem realizar o desejo dele. Ele foi homicida desde o princípio e não se apegou à verdade, pois não há verdade nele. Quando mente, fala a sua própria língua, pois é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8.44).
Em sua primeira carta João salienta que os atos hostis dos descrentes têm influência demoníaca ou possuem às vezes origem demoníaca. Ele faz uma afirmação geral dizendo que “aquele que pratica o pecado é do Diabo” (1Jo 3.8), e continua dizendo: “Desta forma sabemos quem são os filhos de Deus e quem são os filhos do Diabo: quem não pratica a justiça não procede de Deus, tampouco quem não ama seu irmão” (lJo 3.10). Aqui João caracteriza todos os que não são nascidos de Deus como filhos do Diabo e sujeitos à sua influência e desejos.
Quando combinamos todas essas afirmações, vemos que Satanás é visto como o originador das mentiras, dos assassínios, do engano, do falso ensino e do pecado em geral. Por causa disso, parece razoável concluir que o NT quer que entendamos que há algum grau de influência demoníaca em todas as coisas erradas e pecados que ocorrem hoje. Nem todo pecado é causado por Satanás ou pelos demônios, nem a atividade demoníaca é a principal influência ou a causa do pecado, mas a atividade demoníaca é provavelmente um elemento presente em quase todo pecado e em quase toda atividade destrutiva que se opõe à obra de Deus no mundo hoje.
Na vida dos cristãos, como já observamos, a ênfase do NT não é sobre a influência dos demônios, mas sobre o pecado que permanece na vida deles. No entanto, devemos reconhecer que o pecado (mesmo para os cristãos) oferece ponto de apoio para alguma espécie de influência demoníaca em nossa vida. Assim, Paulo pôde dizer: “‘Quando vocês ficarem irados, não pequem’. Apaziguem a sua ira antes que o sol se ponha, e não deem lugar ao Diabo” (Ef 4.26,27). A ira pecaminosa aparentemente pode dar oportunidade para o Diabo (ou demônios) exercer alguma influência negativa em nossa vida — talvez atacando-nos na área de nossas emoções ou talvez por aumentar a ira pecaminosa que já sentimos contra outras pessoas. Semelhantemente, Paulo menciona “a couraça da justiça” (Ef 6.14) como parte da armadura que temos de usar contra “as ciladas do Diabo” e na luta “contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais” (Ef 6.11,12). Se possuirmos áreas de contínuo pecado em nossa vida, há fraquezas e buracos em nossa “couraça da justiça”, e nessas áreas é que somos vulneráveis ao ataque demoníaco. Jesus, ao contrário, que estava perfeitamente livre do pecado, pôde dizer de Satanás: “Ele não tem nenhum direito sobre mim” (Jo 14.30). Podemos também observar a conexão em lJoão 5.18 entre não pecar e não ser tocado pelo maligno: “Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não está no pecado;6 aquele que nasceu de Deus o protege, e o Maligno não o atinge”.
O cristão pode ser possuído pelo demônio?
O termo “possessão demoníaca” é um termo infeliz que aparece em algumas traduções da Bíblia, mas não reflete realmente o texto grego. O NT grego pode falar de pessoas que “têm demônio” (Mt 11.18; Lc 7.33; 8.27; Jo 7.20; 8.48,49,52; 10.20), ou pode falar de pessoas que estão sofrendo por causa de influência demoníaca (a expressão grega é daimonizomai ), porém a Bíblia nunca usa uma linguagem que sugira que um demônio realmente “possui alguém”.
O problema com ambos os termos, possessão demoníaca e endemoninhado, é que eles conotam uma influência demoníaca tão forte que parece insinuar que a pessoa que está sob o ataque demoníaco não tem escolha senão sucumbir ao demônio. Eles sugerem que a pessoa não mais é capaz de exercer sua vontade e está completamente sob domínio do espírito mau. Embora isso possa ser verdade em casos extremos, como o do endemoninhado de Gadara (v. Mc 5.1-20; observe que, após Jesus ter expulsado os demônios, ele ficou “em perfeito juízo”, v. 15), certamente não é o que acontece em muitos casos de ataque demoníaco ou conflito com demônios na vida de diversas pessoas. Assim, como responderemos à pergunta “Um crente pode ser possuído pelo demônio?”. Embora a minha preferência não seja, de forma alguma, o uso do termo possessão demoníaca seja qual for a situação, a resposta a essa pergunta dependerá do que se quer dizer por “possessão demoníaca”. Se por ela se entende que a vontade de uma pessoa fica completamente dominada por um demônio, de forma que essa pessoa não tenha nenhum poder de escolha para fazer o certo e obedecer a Deus, então a resposta com respeito ao cristão ser possuído pelo demônio é negativa, porque a Escritura assegura que o pecado não terá domínio sobre nós, já que fomos ressuscitados com Cristo (Rm 6.14; v. tb. v. 4,11).
A maioria dos cristãos, por outro lado, concorda que pode haver diferentes graus de ataque ou influência demoníaca na vida dos crentes. O crente pode em certas ocasiões ficar sob ataque demoníaco mais forte ou mais suave. (Observe a “filha de Abraão” a quem Satanás mantinha encurvada por dezoito anos de forma que, por causa desse espírito de enfermidade, ela não podia endireitar-se [Lc 13.11,16].) Embora os cristãos após o Pentecoste tenham poder mais pleno [A palavra daimonizomai, que pode ser traduzida por “estar sob a influência demoníaca” ou estar endemoninhados, ocorre treze vezes no NT, todas elas nos evangelhos (Mt 4.24; 8.16,28,33; 9.32; 12.22; 15.22 [“endemoninhada”]; Mc 1.32; 5.15,16,18; Lc 8.36; Jo 10.21). Todos esses exemplos parecem indicar a influência demoníaca muito grave. À luz disso, talvez seja melhor reservar a palavra endemoninhado para casos mais extremos ou graves. A palavra endemoninhado parece-me sugerir influência ou controle demoníaco muito forte. (V. outras palavras similares com o sufixo “izado”: pasteurizado, homogeneizado, tiranizado, materializado, nacionalizado etc. Todas essas palavras falam de uma transformação total no objeto a que se referem, não apenas de uma influência moderada ou suave.) Mas tornou-se comum em parte da literatura cristã de hoje descrever pessoas sob qualquer espécie de ataque do maligno como “endemoninhado”. Seria mais sábio reservar o termo para casos mais graves de influência demoníaca, a fim de que nossa linguagem não sugira uma influência mais forte do que realmente ocorre.] do Espírito Santo trabalhando dentro deles para capacitá-los a triunfar sobre os ataques demoníacos, eles nem sempre invocaram esse poder ou nem mesmo conheceram a respeito do poder que por direito lhes pertence. Faríamos bem em evitar a categorização dessa influência com os termos possessão demoníaca (assim como outros termos como oprimido ou atormentado), para simplesmente reconhecer que pode haver graus variados de ataque ou de influência demoníaca sobre pessoas, mesmo sobre cristãos, e não acrescer mais nada. Em todos os casos, o remédio será sempre o mesmo: repreenda o demônio em nome de Jesus e ordene que saia.
Jesus concede a todos os crentes a autoridade para repreender os demônios e para ordenar-lhes que saiam.
Quando Jesus enviou os doze discípulos adiante dele para pregar o Reino de Deus, ”deu-lhes poder e autoridade para expulsar todos os demônios” (Lc 9.1). Após os setenta terem pregado sobre o Reino de Deus nas cidades e aldeias, eles retornaram com alegria, dizendo: ”Senhor, até os demônios se submetem a nós, em teu nome” (Lc 10.17) , e Jesus lhes disse: ”Eu lhes dei autoridade […] sobre todo o poder do inimigo”(Lc 10.19). Quando Filipe, o evangelista, desceu para Samaria para pregar o evangelho de Cristo , ”os espíritos imundos saíam de muitos, dando gritos” (At 8.7), e Paulo usou a autoridade espiritual sobre os demônios para dizer ao espírito de adivinhação que estava em uma jovem adivinhadora: “Em nome de Jesus Cristo eu lhe ordeno que saia dela!” (At 16.18).
Paulo estava cônscio da autoridade espiritual que possuía, tanto nos encontros face a face como o de Atos 16 , como também em sua vida de oração. Ele disse: “Pois, embora vivamos como homens, não lutamos segundo os padrões humanos. As armas com as quais lutamos não são humanas; ao contrario, são poderosas em Deus para destruir fortalezas” (2Co 10.3,4). Além disso, ele falou em alguma medida da luta que os cristãos têm contra “as ciladas do Diabo” em sua descrição do conflito “contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais” (v. Ef 6.10-18). Tiago fala a todos os seus leitores (em muitas igrejas): “Resistam ao Diabo, e ele fugirá de vocês” (Tg 4.7). Semelhantemente, Pedro diz a seus leitores em muitas igrejas na Ásia Menor: “Estejam alertas e vigiem. O Diabo, o inimigo de vocês, anda ao redor como leão, rugindo e procurando a quem possa devorar. Resistam-lhe, permanecendo firmes na fé” (lPe 5.8,9).
É importante que reconheçamos que a obra de Cristo na cruz é a base definitiva para a nossa autoridade sobre os demônios. Embora Cristo tenha ganho a vitória sobre Satanás no deserto, as cartas do NT apontam para a cruz como o momento em que Satanás foi definitivamente derrotado. Jesus assumiu a natureza humana (carne e sangue) “para que, por sua morte, derrotasse aquele que tem o poder da morte, isto é, o Diabo” (Hb 2.14). Na cruz, Deus, “tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles na cruz” (Cl 2.15). Portanto, Satanás odeia a cruz de Cristo, porque lá ele foi inquestionavelmente derrotado para sempre. Por causa da morte de Cristo na cruz, nossos pecados são perdoados por completo, e Satanás não possui autoridade nem direito sobre nós.
[É bom acrescentar que, se há algum pecado específico que tenha dado lugar à influência do demônio, o pecado deve ser confessado e abandonado (v. anteriormente). Mas nem todo ataque demoníaco pode ser ligado a pecado específico, já que o próprio Jesus foi severamente tentado por Satanás, como aconteceu com Eva antes da queda].
Ainda mais, nossa posição como filhos na família de Deus é a posição espiritual firme pela qual lutamos em nossa batalha espiritual. Paulo diz a todo cristão: “Todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus” (Gl 3.26). Quando Satanás vem para atacar-nos, ele está atacando um dos filhos do próprio Deus, um membro da família divina. Essa verdade dá-nos autoridade para derrotá-lo e enfrentar a guerra contra ele com muito sucesso.
Se como crentes achamos apropriado falar uma palavra de repreensão ao demônio, é importante que nos lembremos de que não precisamos temer os demônios. Embora Satanás e os demônios tenham muito menos poder que o Espírito Santo que opera dentro de nós, uma das táticas de Satanás é tentar causar medo em nós. Em vez de ceder a tal temor, os cristãos devem lembrar as verdades da Escritura, que nos dizem: ”Filhinhos, vocês são de Deus e os venceram, porque aquele que está em vocês é maior do que aquele que está no mundo” (lJo 4.4); e: “Pois Deus não nos deu um espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio” (2Tm 1.7). Paulo diz aos efésios que em sua batalha espiritual eles devem usar o “escudo da fé”, para que possam “apagar todas as setas inflamadas do Maligno” (Ef 6.16). Isso é muito importante, visto que o oposto do temor é a fé em Deus. Ele também lhes diz para serem intrépidos em sua luta espiritual, de forma que, tendo tomado toda a armadura de Deus, pudessem “resistir no dia mau e permanecer inabaláveis, depois deterem feito tudo” (Ef 6.13). Paulo diz que os cristãos, em seu conflito contra as forças espirituais hostis, não devem bater em retirada ou se encolher de medo, mas permanecer intrepidamente no seu lugar, sabendo que suas armas e sua armadura “não são humanas; ao contrário, são poderosas em Deus para destruir fortalezas” (2Co 10.4; cf. lJo 5.18).
Na realidade, essa autoridade de repreender demônios pode resultar em uma breve ordem ao espírito maligno para ir embora quando suspeitamos da presença de influência demoníaca em nossa vida pessoal ou na vida dos que nos cercam. Devemos resistir ao Diabo (Tg 4.7), e ele fugirá de nós. Há ocasiões em que uma breve ordem no nome de Jesus será suficiente. Outras vezes será de grande utilidade citar as Escrituras no processo de ordenar ao espírito para que abandone aquela situação. Paulo fala da “ espada do Espírito, que é a palavra de Deus” (Ef 6.17) . E Jesus, quando foi tentado por Satanás no deserto, repetidamente citou as Escrituras em resposta às tentações do Diabo (Mt 4.1-11). Entre os textos apropriados da Escritura podem ser incluídas afirmações gerais do triunfo de Jesus sobre Satanás (Mt 12.28,29; Lc 10.17-19; 2Co 10.3,4; Cl 2.15; Hb 2.14; Tg 4.7; lPe 5.8,9; lJo 3.8; 4.4; 5.18), mas também versículos relacionados diretamente à tentação particular ou dificuldade iminente.
É importante lembrar que o poder de expulsar demônios não vem da nossa força ou do poder de nossa própria voz, mas do Espírito Santo (Mt 12.28; Lc 11.20) . Além disso, Jesus emite uma advertência clara de que não devemos nos regozijar demais ou nos tornar orgulhosos de nosso poder sobre os demônios, mas que antes devemos nos regozijar em nossa grande salvação. Devemos manter isso claro em nossa mente para que não nos tornemos orgulhosos e o Santo Espírito não venha a retirar de nós esse poder. Quando os setenta discípulos retornaram com alegria dizendo: “Senhor, até os demônios se submetem a nós, em teu nome” (Lc 10.17), Jesus lhes disse: “Contudo, alegrem-se, não porque os espíritos se submetem a vocês, mas porque seus nomes estão escritos nos céus” (Lc 10.20). Devemos viver na expectativa de o evangelho vir com poder para triunfar sobre as obras do Diabo. Quando Jesus veio pregando o evangelho na Galiléia, “de muitas pessoas saíam demônios” (Lc 4.41). Quando Filipe foi a Samaria para pregar o evangelho, “os espíritos imundos saíam de muitos, dando gritos” (At 8.7). Jesus comissionou Paulo para pregar entre os gentios “para abrir-lhes os olhos e convertê-los das trevas para a luz, e do poder de Satanás para Deus, a fim de que recebam o perdão dos pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim” (At 26.18). Segundo Paulo, sua mensagem e pregação “não consistiram de palavras persuasivas de sabedoria, mas consistiram de demonstração do poder do Espírito, para que a fé que vocês têm não se baseasse na sabedoria humana, mas no poder de Deus” (lCo 2.4,5; cf. 2Co 10.3,4). Se realmente cremos no testemunho da Escritura a respeito da existência e da atividade dos demônios e se realmente cremos que “para isso o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do Diabo” (lJo 3.8), então parece apropriado esperar que mesmo hoje, quando o evangelho é proclamado a descrentes e quando a oração é feita por crentes que talvez não estejam conscientes desta dimensão de conflito espiritual, poderá haver triunfo genuíno e muitas vezes imediatamente reconhecível sobre o poder do inimigo. Devemos esperar que essa vitória aconteça, imaginá-la como parte normal da obra de Cristo no desenvolvimento do seu Reino e nos regozijar nela.
Extraído da Teologia Sistemática de Wayne Grudem
quinta-feira, 27 de junho de 2019
Demônios e sua origem
Anjos
Os anjos não existem desde sempre; eles são parte do universo que Deus criou. Em uma passagem que se refere aos anjos como o “exército” dos céus, Esdras diz: “Só tu és o SENHOR. Fizeste os céus, e os mais altos céus, e tudo o que neles há, a terra e tudo o que nela existe, os mares e tudo o que neles existe. Tu deste vida a todos os seres, e os exércitos dos céus te adoram” (Ne 9.6; cf. Sl 148.2,5). Paulo nos diz que Deus criou todas as coisas “visíveis e invisíveis” por meio de Cristo e para ele, e a seguir inclui especificamente o mundo angélico com a frase “sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades” (Cl 1.16).
Os anjos exercem juízo moral, como podemos perceber pelo fato de que alguns deles pecaram e caíram de seu estado original (2Pe 2.4; Jd 6) . Sua alta inteligência é vista por toda a Escritura à medida que eles falam com as pessoas (Mt 28.5; At 12.6-11; etc.) e cantam louvores a Deus (Ap 4.11; 5.11).
Como os anjos são “espíritos” (Hb 1.14), ou criaturas espirituais, efetivamente eles não possuem corpos físicos (em Lucas 24.39, Jesus diz: “um espírito não tem carne nem ossos, como vocês estão vendo que eu tenho”). Portanto, normalmente eles não podem ser vistos por nós a menos que Deus nos dê a capacidade espiritual para vê-los (Nm 22.3 1; 2Rs 6.17; Lc 2.13). Em suas atividades ordinárias de nos guardar e nos proteger (Sl 34.7; 91.11; Hb 1.14), bem como de se juntar conosco para a adoração de Deus (Hb 12.22), eles são invisíveis. Contudo, em certas ocasiões anjos tomaram forma corporal para aparecer a várias pessoas na Escritura (Mt 28.5; Hb 13.2).
Outros nomes para os anjos.
A Escritura às vezes usa outros termos para os anjos, como “filhos de Deus” ( Jó 1.6; 2.1); “santos” (Sl 89.5,7); “espíritos” (Hb 1.14),”sentinelas” (Dn 4.13,17,23), “tronos”, “soberanias”, “poderes”, “autoridades” (Cl 1.16) e”governos”(Ef 1.21).
Outras espécies de seres celestiais.
Existem outros três tipos específicos de seres celestiais mencionados na Escritura. Tanto se pensarmos neles como tipos especiais de “anjos” (no sentido mais amplo do termo) ou como seres celestiais distintos dos anjos, eles são de qualquer forma seres espirituais criados que servem e adoram a Deus.
Os “Querubins”.
Aos querubins foi dada a tarefa de guardar a entrada do Jardim do Éden (Gn 3.24), e é dito que o próprio Deus está entronizado entre os querubins ou que viaja com os querubins como sua carruagem (Sl 18.10; Ez 10.1-22). Sobre a arca da aliança no AT estavam duas figuras douradas de querubins com suas asas estendidas acima da arca, e foi ali que Deus prometeu vir morar entre o seu povo: “Ali, sobre a tampa, no meio dos dois querubins que se encontram sobre a arca da aliança, eu me encontrarei com você e lhe darei todos os meus mandamentos destinados aos israelitas” (Êx 25.22; cf. v. 18-21).
Os “Serafins”.
Outro grupo de seres celestiais, os Serafins, é mencionado somente em Isaías 6.2-7, onde eles continuamente adoram ao Senhor e dizem uns aos outros: “Santo, santo, santo é O SENHOR dos Exércitos, a terra inteira está cheia da sua glória” (Is 6.3)
Os seres viventes.
Tanto Ezequiel como Apocalipse falam-nos de outras espécies de seres celestiais conhecidos por “seres viventes” ao redor do trono de Deus (Ez 1.5-14; Ap 4.6-8). Parecidos com um leão , um boi , um homem e uma águia , são os representantes mais poderosos das várias partes da totalidade da criação de Deus (animais selvagens, animais domesticados, seres humanos e pássaros) e adoram a Deus continuamente: “Santo, santo, santo é o Senhor, o Deus todo-poderoso, que era, que é e que há de vir” (Ap 4.8).
Posição e ordem entre os anjos.
A Escritura indica que há uma hierarquia e ordem entre os anjos. Um anjo, Miguel, é chamado “arcanjo ” em Judas 9 , título que indica governo ou autoridade sobre outros anjos. Ele é chamado “um dos príncipes supremos” em Daniel 10.13. Miguel também parece ser o líder do exército angelical: “Houve então uma guerra nos céus. Miguel e seus anjos lutaram contra o dragão, e o dragão e os seus anjos revidaram. Mas estes não foram suficientemente fortes, e assim perderam o seu lugar nos céus” (Ap 12.7,8). E Paulo diz-nos que o Senhor retornará do céu “dada a ordem, com a voz do arcanjo” (lTs 4.16). Se essa menção se refere a Miguel, o único arcanjo mencionado, ou se há outros arcanjos, a Escritura não nos diz.
As pessoas possuem anjo da guarda pessoal?
A Escritura menciona claramente que Deus envia os seus anjos para a nossa proteção: “Porque a seus anjos ele dará ordens a seu respeito, para que o protejam em todos os seus caminhos; com as mãos eles o segurarão, para que você não tropece em alguma pedra” (Sl 91.11,12). Mas algumas pessoas vão além dessa idéia de proteção geral e pensam que Deus dá um “anjo da guarda” específico para cada indivíduo no mundo, ou ao menos para cada cristão. As palavras de Jesus a respeito dos pequeninos têm servido de apoio para essa idéia: “Pois eu lhes digo que os anjos deles nos céus estão sempre vendo a face de meu Pai celeste” (Mt 18.10). Contudo, nosso Senhor pode estar dizendo que os anjos designados para a tarefa de proteger as criancinhas têm pronto acesso à presença de Deus. (Para usar uma analogia esportiva, os anjos podem valer-se da marcação “por zona” em vez da marcação “homem a homem”.) Quando os discípulos em Atos 12.15 dizem que o “anjo” de Pedro devia estar batendo à porta, isso não implica necessariamente na crença do anjo da guarda individual. Poderia ser que um anjo estivesse guardando ou tomando conta de Pedro naquela situação específica. Parece não haver, entretanto, qualquer apoio convincente para a idéia de “anjos da guarda” individuais no texto da Escritura. Mas cremos que os anjos em geral têm a tarefa de proteger o povo de Deus.
O poder dos anjos.
Aparentemente os anjos têm poder muito grande. Eles são chamados “anjos poderosos, que obedecem à sua palavra” (Sl 103.20),”governo” (Ef 1.21) e ainda “poderes” e “autoridades” (Cl 1.16). Os anjos são aparentemente “maiores em força e poder” que os seres humanos rebeldes (2Pe 2.11; cf. Mt 28.2). Ao menos durante o tempo de sua existência terrena, a raça humana foi feita “um pouco menor do que os anjos” (Hb 2.7). Embora o poder dos anjos seja grande, ele não é certamente infinito, mas é usado para batalhar contra os poderes demoníacos do mal que estão sob o controle de Satanás (Dn 10.13; Ap 12.7,8; 20.1-3). Não obstante, quando o Senhor retornar, seremos elevados à posição mais alta que a dos anjos (lCo 6.3).
O lugar dos anjos no propósito de Deus
Os anjos mostram a grandeza do plano de Deus e de seu amor por nós.
Os seres humanos e os anjos são as únicas criaturas morais e altamente inteligentes que Deus criou. Portanto, podemos entender muita coisa a respeito do plano de Deus e de seu amor por nós quando nos comparamos com os anjos.
A primeira distinção a ser observada é que nunca é mencionado que os anjos foram criados a imagem de Deus, ao passo que diversas vezes é dito que os seres humanos foram criados à imagem de Deus (Gn 1.26,27; 9.6). Já que ser criado à imagem de Deus significa ser igual a Deus, parece justo concluir que somos mais parecidos com Deus que os anjos.
Isso é apoiado pelo fato de que Deus algum dia nos dará autoridade sobre os anjos, para julgá-los: “Vocês não sabem que haveremos de julgar os anjos?” (1 Co 6.3). Embora o ser humano tenha sido feito “um pouco menor do que os anjos” (Hb 2.7), quando a nossa salvação se completar seremos exaltados acima dos anjos e dominaremos sobre eles. De fato, mesmo agora os anjos já nos servem: “Os anjos não são, todos eles, espíritos ministradores enviados para servir aqueles que hão de herdar a salvação?” (Hb 1.14).
A capacidade dos seres humanos de gerar filhos iguais a si mesmos (“Adão gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem” Gn 5.3) é outro elemento de nossa superioridade sobre os anjos, que certamente não podem gerar filhos (cf. Mt 22.30; Lc 20.34-36).
A existência dos anjos também demonstra a grandeza do amor de Deus por nós, porque os anjos pecaram e nunca foram salvos. Pedro nos diz que “Deus não poupou anjos que pecaram, mas os lançou no inferno, prendendo-os em abismos tenebrosos a fim de serem reservados para o juízo” (2Pe 2.4). Judas diz que “quanto aos anjos que não conservaram suas posições de autoridade mas abandonaram sua própria morada, ele os tem guardado em trevas, presos com correntes eternas para o juízo do grande Dia” (Jd 6). E lemos em Hebreus: “Pois é claro que não é a anjos que ele ajuda, mas aos descendentes de Abraão” (Hb 2.16).
Vemos, portanto, que Deus criou dois grupos de criaturas morais inteligentes. Entre os anjos, muitos pecaram, mas Deus decidiu não remir nenhum deles. Foi perfeitamente justo Deus agir assim, e nenhum anjo pode jamais reclamar de ter sido tratado injustamente por Deus. Contudo, embora todos os seres humanos tenham pecado contra Deus e se apartado dele, Deus decidiu fazer muito mais que meramente satisfazer as demandas da sua justiça; ele decidiu salvar alguns seres humanos pecadores. De fato, ele decidiu redimir uma grande multidão da raça pecaminosa, que homem nenhum pode contar, “de toda tribo, língua, povo e nação” (Ap 5.9). Esse é um ato de amor e misericórdia incalculáveis, muito além de nossa compreensão. Tudo isso é favor imerecido; tudo isso é graça. O contraste notável com o destino dos anjos deixa clara essa verdade para nós.
Os anjos são prova de que o mundo invisível é real.
Exatamente como nos dias de Jesus os saduceus diziam que não havia ”ressurreição nem anjos nem espíritos” (At 23.8), muitas pessoas em nossos dias negam a realidade de qualquer coisa que não se possa ver. Mas o ensino bíblico sobre a existência dos anjos é a lembrança constante para nós de que há o mundo invisível que é muito real. Foi somente quando o Senhor abriu os olhos do servo de Eliseu para a realidade desse mundo invisível que o servo viu “as colinas cheias de cavalos e carros de fogo ao redor de Eliseu” (2Rs 6.17; esse era um grande exército angelical enviado a Dotã para proteger Eliseu dos arameus). O salmista também mostra a consciência do mundo invisível quando encoraja os anjos: “Louvem-no todos os seus anjos, louvem-no todos os seus exércitos celestiais” (Sl 148.2). O autor de Hebreus nos lembra de que, quando adoramos, vamos à Jerusalém celeste para nos reunir “aos milhares de milhares de anjos em alegre reunião” (Hb 12.22), a quem não vemos, mas cuja presença nos encherá de temor e alegria. O mundo incrédulo pode desprezar o tema dos anjos, considerando-os mera superstição, mas a Escritura oferece essas afirmações como a percepção da realidade tal qual ela é.
Os anjos são exemplos para nós.
Tanto na obediência como na adoração, os anjos proporcionam exemplos úteis para que os imitemos. Jesus nos ensina a orar: “ Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6.10). No céu a vontade de Deus é feita pelos anjos imediatamente, com alegria e sem qualquer questionamento. Devemos orar todos os dias para que a nossa obediência e a obediência dos outros seja igual à dos anjos no céu. O prazer deles é ser servos humildes de Deus, cada um realizando a tarefa, grande ou pequena, que lhe foi designada, com fidelidade e alegria. Nosso desejo e oração devem ser para que nós e todos os demais na terra façamos o mesmo.
Os anjos também servem como exemplo para nós na sua adoração a Deus. Os serafins perante o trono de Deus vêem Deus em sua santidade e continuam a clamar: “Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos, a terra inteira está cheia da sua glória” (Is 6.3). João vê ao redor do trono de Deus um grande exército angelical: “Então olhei e ouvi a voz de muitos anjos, milhares de milhares e milhões de milhões. Eles rodeavam o trono, bem como os seres viventes e os anciãos, e cantavam em alta voz: ‘Digno é o Cordeiro que foi morto de receber poder, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvor!”’ (Ap 5.11,12). Como os anjos encontram a sua mais alta alegria em louvar a Deus continuamente, não deveríamos também nos deleitar cada dia no cântico de louvor a Deus, considerando esse o mais alto e o mais digno uso de nosso tempo e nossa maior alegria?
Os anjos executam alguns dos planos de Deus .
A Escritura vê os anjos como servos de Deus que executam alguns de seus planos na terra. Eles trazem as mensagens de Deus às pessoas (Lc 1.11-19; At 8.26; 10.3-8,22; 27.23,24). Eles executam alguns dos juízos, trazendo pragas sobre Israel (2Sm 24.16,17), ferindo os líderes do exército assírio (2Cr 32.21), trazendo a morte ao rei Herodes porque ele não dera glória a Deus (At 12.23), ou derramando as taças da ira de Deus sobre a terra (Ap 16.1). Quando Cristo retornar, os anjos virão com ele como um grande exército acompanhando o seu Rei e Senhor (Mt 16.27; Lc 9.26; 2Ts 1.7).
Os anjos também patrulham a terra como representantes de Deus (Zc 1.10,11) e guerreiam contra as forças demoníacas (Dn l0.13;Ap 12.7,8). João,em sua visão, viu um anjo descendo do céu, e ele registra que o anjo “prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo, Satanás, e o acorrentou por mil anos” (Ap 20.2,3). Quando Cristo retornar, um arcanjo proclamará a sua vinda (lTs 4.16; cf.Ap 18.1,2,21; 19.17,18; etc.).
Os anjos glorificam a Deus diretamente.
Os anjos também servem em outra função: eles ministram diretamente a Deus ao glorificá-lo. Assim, em adição aos seres humanos, há outras criaturas morais inteligentes que glorificam a Deus no universo.
Os anjos glorificam a Deus pelo que ele é em si mesmo, por sua excelência: “Bendigam o SENHOR, vocês, seus anjos poderosos, que obedecem à sua palavra” (SI 103.20; cf. 148.2).
Os serafins continuamente louvam a Deus por sua santidade (Is 6.2,3), assim como fazem os quatro seres viventes (Ap 4.8).
Os anjos também glorificam a Deus por seu grande plano de salvação à medida que o vêem revelado. Quando Cristo nasceu em Belém, uma multidão de anjos louvou a Deus dizendo: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens aos quais ele concede o seu favor” (Lc 2.14; cf. Hb 1.6) . Jesus nos diz: “há alegria na presença dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende”(Lc 15.10), indicando que os anjos se regozijam cada vez que alguém se volta de seus pecados e confia em Cristo como Salvador.
Quando Paulo proclama o evangelho de forma que pessoas de diversas origens raciais, judeus e gregos, sejam trazidas à igreja, ele vê o plano sábio de Deus para a igreja como demonstração diante dos anjos (e demônios): “A intenção dessa graça era que agora, mediante a igreja, a multiforme sabedoria de Deus se tornasse conhecida dos poderes e autoridades nas regiões celestiais” (Ef 3.10). Pedro nos diz que “os anjos anseiam observar” (lPe 1.12) as glórias do plano de salvação enquanto ele se realiza na vida dos crentes individuais cada dia. Além disso, o fato de que na adoração da igreja as mulheres devem “ter sobre a cabeça um sinal de autoridade” pelo fato delas serem mulheres e “por causa dos anjos” (1 Co 11.10), indica que os anjos testemunham a vida dos cristãos e glorificam a Deus por nossa adoração e obediência.
Nossa relação com os anjos
Devemos estar cônscios dos anjos na vida diária.
A Escritura deixa claro que Deus quer que estejamos conscientes da existência de anjos e da natureza de sua atividade. Não devemos, portanto supor que seu ensino a respeito dos anjos não diga respeito à nossa vida hoje. Ao contrário, há diversas formas pelas quais nossa vida cristã será enriquecida por termos consciência da existência e ministério dos anjos no mundo, mesmo nos dias presentes.
Quando comparecemos diante de Deus em adoração, não nos juntamos simplesmente à grande companhia dos crentes que morreram e estão na presença de Deus no céu, os “espíritos dos justos aperfeiçoados” , mas também à grande multidão de anjos, “milhares de milhares de anjos em alegre reunião” (Hb 12.22,23). Embora não vejamos nem ouçamos normalmente nada como evidência de sua adoração celestial, certamente enriquece nosso senso de reverência e alegria na presença de Deus apreciarmos o fato de que os anjos se juntam a nós na adoração de Deus.
Além disso, devemos estar cônscios de que os anjos observam nossa obediência ou desobediência a Deus durante o dia. Mesmo se pensamos que nossos pecados são cometidos em segredo e não trazem tristeza a ninguém (exceto, obviamente, ao próprio Deus), devemos ser alertados pelo pensamento de que talvez centenas de anjos testemunhem nossa desobediência e se entristeçam. Por outro lado, quando estamos desencorajados e pensamos que a nossa obediência fiel a Deus não é testemunhada por ninguém e não oferece encorajamento a ninguém, podemos ser confortados pela percepção de que talvez centenas de anjos testemunhem nossa luta solitária, diariamente “anelando perscrutar” o caminho da grande salvação de Cristo que encontra expressão em nossa vida.
Tentando tornar a realidade da observação angelical de nosso serviço a Deus ainda mais vívida, o autor de Hebreus sugere que os anjos podem algumas vezes tomar forma humana, aparentemente para fazer “visitas de inspeção”, algo parecido com um crítico de restaurante enviado por um jornal que se disfarça e visita um novo restaurante. Lemos o seguinte: “Não se esqueçam da hospitalidade; foi praticando-a que, sem o saber, alguns acolheram anjos” (Hb 13.2; cf. Gn 18.2-5; 19.1-3). Isso deve nos tornar mais desejosos de ministrar às necessidades de pessoas a quem não conhecemos. Pois nos maravilharia se algum dia, ao entrarmos no céu, encontrássemos o anjo a quem ajudamos quando apareceu temporariamente como um ser humano em miséria aqui na terra.
Quando somos repentinamente libertos de um perigo ou miséria, devemos suspeitar de que anjos enviados por Deu nos ajudam, e devemos ser agradecidos por isso. Um anjo fechou a boca dos leões de modo que eles não causaram nenhum dano a Daniel (Dn 6.22), um anjo ministrou a Jesus no deserto em tempo de grande fraqueza, imediatamente após o término de suas tentações (Mt 4.11), um anjo livrou os apóstolos da prisão (At 5.19,20) e, mais tarde, um anjo libertou Pedro da prisão (At 12.7.11). A Escritura não promete que “a seus anjos ele dará ordens a seu respeito, para que o protejam em todos os seus caminhos; com as mãos eles o segurarão, para que você não tropece em alguma pedra” (S1 91.11,12)? Portanto, não devemos agradecer a Deus por enviar anjos para nos protegerem tais circunstâncias? Parece certo responder positivamente a essa pergunta.
Cuidados com respeito ao nosso relacionamento com os anjos.
Precavenha-se para não receber doutrina falsa dos anjos.
A Bíblia nos adverte contra recebermos doutrina falsa de supostos anjos: “Mas ainda que nós ou um anjo dos céus pregue um evangelho diferente daquele que lhes pregamos, que seja amaldiçoado!” (Gl 1.8). Paulo faz essa advertência porque sabe que há possibilidade de engano. Ele diz: “Isto não é de admirar, pois o próprio Satanás se disfarça de anjo de luz” (2Co 1 1.14). De modo semelhante,o profeta mentiroso que enganou o homem de Deus em lReis 13 disse: “Eu também sou profeta como você. E um anjo me disse por ordem do SENHOR: ‘Faça-o voltar com você para a sua casa para que coma pão e beba água”'(lRs 13.18). Todavia, o texto da Escritura imediatamente acrescenta no mesmo versículo: “Mas ele estava mentindo”.
Esses são exemplos de doutrina ou orientação falsa sendo transmitida por anjos ou pessoas assegurando que anjos lhes falaram. É interessante que esses exemplos mostram a possibilidade clara de engano satânico tentando-nos a desobedecer aos ensinos claros da Escritura ou às ordens claras de Deus (cf. lRs 13.9). Essas advertências devem guardar qualquer cristão de ser enganado, por exemplo, pelos ensinos dos mórmons, que dizem que o anjo Moroni falou a Joseph Smith e lhe revelou a base da religião mórmon. Tal “revelação” é contrária aos ensinos da Escritura em muitos pontos (com respeito a doutrinas como a Trindade, a pessoa de Cristo, a justificação pela fé somente, e muitas outras), e os cristãos devem ser advertidos para não aceitar tais declarações.
Não adore anjos, não ore a eles nem os procure .
A ”adoração de anjos” (Cl 2.18) era uma das doutrinas falsas ensinadas em Colossos. Além disso, no livro de Apocalipse um anjo adverte João para que ele não o adore: “Não faça isso! Sou servo como você e como os seus irmãos que se mantêm fiéis ao testemunho de Jesus. Adore a Deus!” (Ap 19.10).
Nem devemos orar aos anjos. Devemos orar a Deus somente, o único que é onipotente e, assim, capaz de responder à oração e o único que é onisciente e, portanto, capaz de ouvir as orações de todo o seu povo de uma só vez. Paulo nos adverte contra o pensamento de que outro “mediador” possa estar entre nós e Deus: “Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus” (1Tm 2.5). Se oramos aos anjos, estamos implicitamente atribuindo-lhes posição igual à de Deus, o que não devemos fazer. Não há exemplo na Escritura de alguém orando a um anjo específico ou pedindo ajuda a anjos.
Além disso, a Escritura não nos autoriza a buscar aparições de anjos. Eles se manifestam a nós de forma que não os vemos. Buscar tais aparições parece indicar curiosidade doentia ou o desejo por uma espécie de evento espetacular em vez do amor a Deus e a devoção a ele e à sua obra. Embora os anjos tenham realmente aparecido em várias ocasiões na Escritura, com toda a certeza as pessoas a quem eles apareceram nunca procuraram essas aparições. Nosso papel é antes conversar com o Senhor, que é o próprio comandante das forças angelicais. Contudo, não parece errado pedir a Deus para cumprir a sua promessa em Salmos 91.11 de enviar anjos para proteger-nos em tempos de necessidade.
quarta-feira, 26 de junho de 2019
Pérgamo
Carta à Igreja em Pérgamo
A igreja em Pérgamo se encontrou numa situação difícil. Por todos os lados, os vizinhos praticavam idolatria e deram honra aos governantes romanos. Os cristãos não abandonaram a verdade do Senhor, o único verdadeiro Soberano. Mas, tanta influência de falsas doutrinas teve um impacto negativo na igreja, poluindo a congregação com doutrinas falsas que incentivavam os irmãos a praticaram idolatria e imoralidade. Jesus chama a igreja ao arrependimento para evitar o castigo divino.
Ao Anjo da Igreja em Pérgamo (Apocalipse 2:12-17)
A igreja em Pérgamo (12): O único livro do Novo Testamento que cita a cidade ou a igreja em Pérgamo é o Apocalipse. Com a ajuda dos romanos, Pérgamo ganhou independência dos selêucidas em 190 a.C., e passou a fazer parte do império romano a partir de 133 a.C. Durante mais de 200 anos, foi a capital da província romana da Ásia. Teve a maior biblioteca fora de Alexandria, Egito. Foi o povo de Pérgamo que começou a usar peles de animais para fazer pergaminho, substituindo o papiro.
Aquele que tem a espada afiada de dois gumes (12): A espada representa autoridade e o poder para julgar e castigar. É Jesus, e não o governo romano, que segura esta espada (1:16).
Conheço o lugar em que habitas, onde está o trono de Satanás (13): Os cristãos em Pérgamo eram vizinhos do diabo! Jesus, sempre vigiando para ajudar o seu povo, sabia muito bem da circunstância difícil naquela cidade. Desde 29 a.C., foi o local de um templo dedicado a Roma e Augusto (idolatria oficial do governo romano). Mais tarde, foram erigidos outros templos para a honra dos imperadores Trajano e Severo. Além desses templos para o culto imperial, o povo de Pérgamo adorava outros “deuses”, tais como Zeus, Atena, Dionisio e Asclepio. Encontramos em Pérgamo uma mistura dos poderes do mal – religiões falsas e o poder oficial do governo romano. Enquanto seus vizinhos sacrificavam aos demônios (veja 1 Coríntios 10:19-20), os discípulos de Cristo reconheciam o único Deus como Senhor.
E que conservas o meu nome e não negaste a minha fé, ainda nos dias de Antipas (13): Jesus elogia a perseverança dos cristãos de Pérgamo, que foram fiéis à fé de Jesus, mesmo sob perseguição intensa. A minha fé (a fé de Jesus) é a palavra de Cristo revelada aos homens (veja Judas 3). Antipas é mencionado somente aqui. Evidentemente foi um mártir, provavelmente da própria congregação em Pérgamo. Foi morto entre eles, na cidade onde Satanás habitava. Antipas se mostrou fiel até a morte (veja 2:10). Testemunha vem da palavra grega martus. É a mesma palavra usada para descrever Jesus em 1:5. Com tempo, passou a ser usada para identificar pessoas que morreram por seu testemunho de fé, e assim usamos a palavra mártir.
Tenho, todavia, contra ti algumas coisas (14): Apesar da perseverança dos cristãos em Pérgamo, haviam problemas graves ameaçando o bem-estar da congregação. Eles se mostraram tolerantes em relação a falsas doutrinas, especificamente dois erros citados nesta carta.
A doutrina de Balaão (14): A descrição da doutrina de Balaão refere-se à história do Velho Testamento (Números 22-25; 31:16). No final dos 40 anos de peregrinação, os israelitas chegaram perto da terra prometida. Acamparam-se nas campinas de Moabe, e os moabitas e midianitas ficaram amedrontados. Balaque chamou Balaão para amaldiçoar o povo, mas Deus frustrou todas as suas tentativas de falar contra os israelitas. Balaão desistiu de suas maldições, mas procurou outra maneira de vencer o povo de Israel. Deu o conselho de convidá-los a participarem de uma festa idólatra. Nesta festa, muitos israelitas se envolveram na idolatria e na imoralidade, e Deus mandou uma praga que matou 24.000 israelitas.
[A doutrina de Balaão foi a doutrina que Balaão ensinava, não apenas a doutrina sobre a pessoa de Balaão. Semelhantemente, a doutrina de Cristo não é apenas o ensinamento sobre a pessoa de Cristo. A doutrina de Cristo inclui o que Jesus ensinava. Considere a importância deste fato em relação a textos como Tito 2:10; Hebreus 6:1e 2 João 9. Se alguém for além do ensinamento dado por Jesus, não tem Deus.]
Na igreja em Pérgamo, algumas pessoas agiam como Balaão. Incentivavam o povo a tolerar outras religiões, até participando da idolatria e da prostituição. A sua doutrina foi basicamente igual às idéias atuais de pluralismo (aceitação de diversas religiões como igualmente boas) e sincretismo (juntando duas ou mais religiões).
A doutrina dos nicolaítas (15): A Bíblia não identifica esta doutrina. Mas, diz que Jesus odiava as obras dos nicolaítas e elogia os efésios por rejeitar esses ensinamentos (2:6). Infelizmente, a igreja em Pérgamo tolerava esses falsos mestres.
[Deus condena a tolerância de falsas doutrinas. Às vezes, os homens valorizamtanto a unidade entre pessoas (dentro de uma congregação ou até entre congregações diferentes) que desvalorizam a doutrina pura de Jesus. Toleram falsos ensinamentos e até práticas proibidas, como a imoralidade e a idolatria, mas insistem na importância de manter uma “igreja unida”. Se persistir nesseerro, o próprio Jesus trará o castigo. A unidade entre discípulos é importante, mas a pureza da palavra é mais importante do que a paz entre homens (Tiago 3:17). Uma igreja que serve a Jesus necessariamente rejeitará falsos mestres e suas doutrinas erradas.]
Portanto, arrepende-te; e, se não, ... contra eles pelejarei(16): O arrependimento exigido é da igreja, pois ela tolerava esses falsos mestres. Os professores das doutrinas de Balaão e dos nicolaítas precisariam se arrepender, também, ou serem rejeitados (veja Romanos 16:17-18; Tito 3:10-11). Uma igreja que tolera falsos professores se torna cúmplice do pecado. Se ela não se arrepender, Jesus usará a espada de dois gumes (2:12; 1:16) para trazer seu castigo sobre ela.
Quem tem ouvidos, ouça (17): Como em todas as sete cartas, Jesus chama os ouvintes a darem a atenção devida a sua palavra.
Ao vencedor (17): Todas as cartas, também, incluem a promessa sobre a vitória. Aqueles que persistem até o final receberão a recompensa. Nesta carta, a bênção para o vencedor é descrita em duas partes:
● O maná escondido: Aqueles que recusaram qualquer participação na mesa dos demônios seriam sustentados pelo maná de Deus. Jesus é o maná dado pelo Pai (veja João 6:31-65). Ele sustenta os fiéis e lhes dá vida. A mensagem de Jesus continua oculta para os sábios deste mundo (veja 1 Coríntios 2:6-10).
● Uma pedrinha branca com um nome novo escrito: Um nome novo, freqüentemente, sugeria uma nova direção na vida, especialmente de uma pessoa abençoada por Deus (exemplos: Abrão > Abraão; Sarai > Sara; Jacó > Israel). Em Isaías 62:2-4, Desamparada e Desolada recebem nomes novos: Minha-Delícia e Desposada, mostrando a bênção de estar com Deus. Veja, também, 3:12. A pedrinha branca pode incluir vários significados, conforme os costumes da época. Pedras brancas foram usadas para indicar a inocência de pessoas acusadas de crimes; Jesus inocenta os seus seguidores fiéis. Pedras brancas foram dadas a escravos libertados para mostrar sua cidadania; os fiéis não são mais escravos do pecado, pois se tornaram cidadãos da pátria celestial (Filipenses 3:20). Foram usadas pelos romanos como um tipo de ingresso para alguns eventos; Jesus permite os fiéis entrarem na presença dele para o seu banquete (veja 19:6-9). Também foram dadas aos vencedores de corridas e aos vitoriosos em batalha. Os fiéis são vencedores que receberão o prêmio (2 Timóteo 4:7-8).
Conclusão
Devemos imitar a perseverança dos discípulos em Pérgamo, mantendo firme a nossa fé, mesmo se encararmos ameaças e perseguições. Ao mesmo tempo, não devemos negligenciar outras responsabilidades diante de Deus. Servimos um Deus puro, e devemos manter e defender a doutrina pura que ele revelou. Qualquer doutrina que incentiva a idolatria ou a imoralidade vem do diabo. Procuremos o maná que vem de Deus para nos sustentar para sempre.
Dom de Ciência
O dom de ciência é um dom através do qual o Senhor faz com que o homem entenda as coisas da maneira como Ele as entende. Faz que o homem penetre na raiz de cada acontecimento, fato, sentimento ou situação, ou melhor, através do dom de ciência, Deus dá o diagnóstico, a causa de um problema, doença, fato, situação, etc...
Quando estamos com febre, nos dirigimos a um médico para descobrir a causa da febre. Porque a febre não é a doença, mas um sintoma da doença.
Quando alguém está deprimido, queremos resolver o problema da depressão, aliviando os seus sintomas, porém não conseguimos detectar a causa da depressão. Através do dom de ciência, o Senhor nos revela a causa da depressão, sua raiz, com o objetivo de curar. O Espírito Santo, através deste dom, presta um serviço ao povo de Deus através de nós.
Pelo dom de ciência, Deus ensina ao homem sobre as suas verdades, permite que a sua luz penetre no entendimento do homem. Deus comunica ao homem informações que são impossíveis de se adquirir humanamente ou por conhecimento natural, pela razão.
É um dom de revelação. Revela uma ação que Deus já está fazendo (a cura), ou uma situação ou mentalidade que precisa ser transformada por Deus, sempre com a finalidade de transformação e conversão através do poder e da misericórdia de Deus que cura o corpo e o coração.
Alguns exemplos de “palavra de ciência” no N.T.
- Lc 1,39-45 - Maria comunica o Espírito Santo a Isabel, como sinal do que iria acontecer em Pentecostes sobre toda a Igreja.
- Lc 1,43 - Isabel recebe o conhecimento de um mistério que, humanamente, ela jamais seria capaz de compreender, a encarnação de Jesus.
Aqui a palavra de ciência veio acompanhada de um sinal físico: o menino... (Lc 1,44).
- Mt 1,18-25 - vem também através de um sonho, como no caso de José. O Espírito Santo revela a José, em sonho, o mistério da encarnação. José recebe o dom de ciência (a revelação) e através dele vê acontecer, em si próprio, mudança radical de mentalidade e do conhecimento de Deus.
- Jo 4,16-19 - Jesus fala à samaritana sobre os 5 maridos que tivera. Esta palavra de ciência fez a mulher perceber que Jesus era um profeta, abrindo a porta do seu coração para a revelação que ele era o Messias. A samaritana experimentou a misericórdia de Deus aplicada ao pecado de adultério, pois Jesus não a acusou, mas revelou o que sabia. A palavra de ciência teve o poder de levá-la a arrepender-se, ser perdoada e reconhecer que Jesus o Messias, tendo acesso à “água viva” por ele prometida.
- At 5,1-11 - O Espírito Santo, através da palavra de ciência, revela a intenção secreta do coração de Ananias e Safira.
- Mc 5, 25-34 - A cura da hemorroíssa. Jesus usa a palavra de ciência como confirmação da cura pelo poder do Espírito Santo e pela fé.
- Lc 5, 17-26 - A cura do paralítico. Quando Jesus diz: “os teus pecados estão perdoados”, ele sabe por revelação que a necessidade maior do paralítico é ser perdoado de seus pecados que, são a causa de muitos males físicos e espirituais. Para o paralítico eram empecilhos para a ação de Deus em sua vida.
- Jo 4, 50 - A cura do filho de um oficial: “Vai, disse-lhe Jesus, o teu filho está bem!”.
A pessoa que recebe o dom de ciência pode perceber que o Senhor a está tocando através de um sentimento forte, uma certeza interior que nos chega à mente, pode ser: uma palavra, uma cena da vida da pessoa, uma visualização; o Senhor nos mostra o que está curando: uma parte do corpo, um problema emocional, uma cura espiritual ou aumentando a fé, chamando à conversão... Isso acontece após uma oração em línguas, quando nossa mente está aberta e livre para receber a revelação do Senhor. Geralmente, este dom é acompanhado pela palavra de sabedoria.
sábado, 15 de junho de 2019
Sā Doutrina
Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina”. (Tt 2.1).
A palavra doutrina se origina do grego: “didache”, que significa ensino ou instrução dos apóstolos. Entendemos que a sã doutrina é a revelação do Eterno Deus por meio das sagradas escrituras e representa o alicerce e o sustentáculo da verdadeira fé cristã.
Vejamos o que a bíblia nos ensina sobre a sã doutrina:
I.TIPOS DE DOUTRINAS EXISTENTES:
A.Doutrinas de homens: (Mc 7.6-9; Mt 15.6-9).
B.Doutrinas de hereges: (Ap 2.6,15)
C.Doutrinas de demônios: (I Tm 4. 1-2).
D.Doutrina de Deus: (Jo 7.16; Tt 2.10).
II.CONSIDERAÇÕES ESSENCIAIS ACERCA DA SÃ DOUTRINA:
A.Precisamos cuidar da sã doutrina (I Tm 4.16).
B.Devemos nos afastar dos que vivem em desacordo com a sã doutrina (Rm 16.17).
C.Devemos nos afastar dos opositores a sã doutrina. (I Tm 1.9-11).
D.O motivo da existência de falsas doutrinas. (I Tm 6.3-5).
E.Não devemos recebê-los nem cumprimentá-los. ( II Jo 10).
F.Haverá tempos em que não suportarão a sã doutrina. (II Tm 4.3).
G.Cuidado com os ventos de Doutrina. (Ef 4.14).
III.A IMPORTÂNCIA DA SÃ DOUTRINA:
A.Jesus tinha uma Doutrina: (Mt 7.28; Mt 22.33; Lc 4.32).
B.Os Cristãos primitivos tinham uma Doutrina a qual perseverava: (At 2.42).
C.Os crentes de Roma pautavam sua vida por excelente doutrina: (Rm 6.17).
D.Paulo recomendou a Tito e a Timóteo o cuidado com a doutrina: (ITm 1.3-10; 4.6-16; 6.3; II Tm4.3; Tt 1.9; Tt 2.1).
E.João determinou a doutrina: (2Jo .9).
F.João recomendou a doutrina: (2Jo 10).
G.A doutrina proporciona comunhão com Deus: (2Jo .9).
H.A doutrina proporciona piedade: (I Tm 6.3)
IV.A NECESSIDADE DA SÃ DOUTRINA:
A. Preservar dos falsos profetas: (Mt 24.24; Mt 7.15).
B. Preservar das heresias e apostasias: (II Ts 2.3; I Tm 4. 1-2).
C. Para não corromper nosso entendimento: (II Ts 2.2).
D. Devemos guardar as tradições: (II Ts 2.15).
E. Proporciona-nos a segurança da salvação em Cristo: (I Tm 4:16).
F. Santifica-nos: (Jo 17:14-17).
G. Tornar-nos sábios: (II Tm 3:15).
H. Tornar-nos obedientes: (Rm. 6.17).
V.A SUFICIÊNCIA DA SÃ DOUTRINA:
A. Ninguém poderá alterar a doutrina: (Gl 1.8).
B. Ninguém poderá ensinar outra doutrina: (I Tm 1.3).
VI.A COMPLETUDE DA SÃ DOUTRINA:
A. A doutrina está completa e não precisa de nenhuma modificação: (Ap 22. 18-19).
Por fim, enfatizamos a relevância do conhecimento doutrinário para a solidificação de uma fé autentica que combate as heresias e propaga veementemente a suprema verdade de Deus.
quinta-feira, 13 de junho de 2019
COMO REALIZAR UMA CERIMÔNIA DE CASAMENTO EVANGÉLICO
O QUE NÃO É UMA CERIMÔNIA DE CASAMENTO
a) Ainda que nela se cultue a Deus, a cerimônia de casamento, em si, não é um culto.
b) Ainda que nela haja muitos crentes, a cerimônia de casamento, em si, não é a igreja reunida.
c) Ainda que ela seja um momento de felicidade, a cerimônia de casamento, em si, não é uma festa.
d) Ainda que ela termine num bom ambiente de amizade, a cerimônia de casamento, em si, não é uma reunião informal.
O QUE É, ENTÃO, UMA CERIMÔNIA DE CASAMENTO?
– Melhor perguntando: O que é uma cerimônia de casamento evangélica?
a) É o momento em que o casal sela sua aliança de amor.
b) É o momento em que a família, a igreja e a sociedade são solenemente informados do contrato matrimonial que foi celebrando.
c) É o momento em que todos, numa só voz, pedem a bênção de Deus sobre o casal.
ORIENTAÇÕES ESPECÍFICAS DE COMO REALIZAR UMA CERIMÔNIA DE CASAMENTO EVANGÉLICO
1. COMBINE TODOS OS DETALHES COM OS NOIVOS
a) O celebrante deve conversar com o casal antes do casamento para inteirar-se da maneira como eles esperam que a cerimônia seja realizada (a ordem de entrada, as músicas que serão tocadas e cantadas, as participações especiais etc.).
b) Se houver algum ponto em que o celebrante não concorda, devido às suas convicções pessoais, deve ser honesto com os noivos e encontrar uma solução. Se não houver acordo, peça, gentilmente, para ser dispensado da tarefa, explicando-lhes os motivos.
2. DOMINE O AMBIENTE
a) Estando tudo acertado, obtenha dos noivos autoridade para ajeitar o ambiente, se for preciso.
b) Se a cerimônia for realizada num ambiente alternativo, como num restaurante, por exemplo, exija que todas as cadeiras fiquem dispostas em filas, como num ambiente de igreja (jamais permita que sejam colocadas em círculo, pois, nesta posição, as pessoas fatalmente ficarão conversando umas com as outras durante a cerimônia, atrapalhando). Uma ideia bastante eficiente é colocar um aviso em todas as mesas pedindo que a posição das cadeiras sejam mantidas até o final da cerimônia.
c) Chegue meia-hora antes para verificar o sistema de som, a posição da mesa, do genuflexório etc.
d) Antes de iniciar a cerimônia, verifique mais uma vez a posição das cadeiras, pois, infelizmente, algumas pessoas parecem ter prazer em tumultuar casamento evangélico. Seja firme neste ponto e em qualquer outro que você perceba que poderá gerar problema.
3. COMO INICIAR A CELEBRAÇÃO?
a) Fique em pé no local onde você irá celebrar a cerimônia.
b) Espere que entrem todos os participantes (padrinhos, crianças, pais, noivo, noiva etc.)
c) Peça que todos os presentes fiquem em pé.
d) Agradeça a presença de todos, em nome dos noivos e das famílias e diga-lhes o objetivo da cerimônia: “Estamos aqui reunidos para pedir a bênção de Deus para este casal”.
Anote o nome dos noivos (para não correr o risco de “dar um branco”).
e) Faça uma oração pedindo a bênção de Deus sobre a cerimônia, para que seja “boa, agradável e perfeita”.
f) Após a oração, leia o texto bíblico escolhido, peça que todos se assentem (exceto os noivos, é claro).
4. FIQUE DENTRO DO ROTEIRO QUE FOI COMBINADO
a) Após a leitura bíblica, geralmente há a apresentação de uma canção ou hino, mas se não houver, siga o roteiro.
b) Não improvise nada, fique dentro do que foi combinado.
c) Faça tudo com simplicidade e bom gosto.
d) Apresente a mensagem que Deus colocou em seu coração.
5. ESCOLHA UMA MENSAGEM APROPRIADA PARA A OCASIÃO
– Evite temas polêmicos.
– Evite temas teológicos.
– Evite falar de divórcio.
– Evite mensagens evangelísticas.
– Evite falar demais (se você estiver bem preparado, uma boa mensagem de 10 a 15 minutos será mais que o suficiente).
– Evite falar de você mesmo, da sua família ou do seu casamento.
– Evite ficar dando conselhos sobre vida conjugal (isso deve ser feito nas reuniões com o casal, antes do casamento).
As mensagens adequadas são aquelas que falam de amor, da alegria de uma vida a dois, da certeza da vitória etc.
6. O MOMENTO DOS VOTOS
Há várias maneiras de se conduzir este momento.
– Alguns noivos fazem seus votos voluntariamente e sem anotações.
– Outros, trazem seus votos escritos para ler neste momento.
– No entanto, o mais comum é o celebrante ler os votos para os noivos repetirem.
– Somente peça para os noivos declararem sozinhos os seus votos matrimoniais se isso foi combinado anteriormente (nada de improvisação em casamentos, pois todos estão ansiosos ou nervosos e improvisações certamente vão dar errado).
– Leve os votos escritos, de preferência já com o nome completo dos noivos.
– Leia devagar e pausadamente, respeitando os pontos e vírgulas, com a entonação solenemente adequada (ensaiar em casa e pedir para alguém nos corrigir é uma prática muito saudável).
– Ao final de cada voto, garanta que todos ouçam o “SIM” dos noivos. Se um deles falar muito baixo, peça gentilmente para repetir.
MODELO DE VOTOS DE CASAMENTO
OS VOTOS DO NOIVO
“[Pronuncie o nome completo do noivo]… estás disposto a prometer diante de Deus e de todos aqui presentes a tomar a esta mulher [pronuncie o nome completo da noiva] por tua legítima esposa, para viveres com ela segundo foi ordenado por Deus? Prometes amá-la, honrá-la, consolá-la e conservá-la, tanto na saúde como na enfermidade, na prosperidade como em seus sofrimentos, e te conservares exclusivamente para ela enquanto ambos viverem?”
OS VOTOS DA NOIVA
“[Pronuncie o nome completo da noiva]… estás disposta a prometer diante de Deus e de todos aqui presentes a tomar a este homem [pronuncie o nome completo do noivo] por teu legítimo esposo, para viveres com ele segundo foi ordenado por Deus? Prometes amá-lo, honrá-lo, consolá-lo e conservá-lo, tanto na saúde como na enfermidade, na prosperidade como em seus sofrimentos, e te conservares exclusivamente para ele enquanto ambos viverem?”
7. CERIMÔNIA DA TROCA DAS ALIANÇAS
a) Após os votos, geralmente há a apresentação de uma canção ou hino, mas se não houver, siga o roteiro.
b) Pegue as alianças (geralmente elas são trazidas por crianças ou pelo noivo) e levante-as para o público ver.
c) Faça uma brevíssima consideração sobre o significado da aliança. Ex.:
“Aliança significa aliar-se a algo ou a alguém, intenções de acordo, pacto entre partes, convênios entre pessoas ou nações que buscam objetivos comuns. A Bíblia fala de muitas alianças, especialmente das alianças que Deus fez com a humanidade. Aqui, nesta cerimônia de casamento, estas alianças significam um compromisso voluntário, consciente e responsável estabelecido entre duas pessoas que se amam”.
d) Entregue a aliança da noiva → para o → noivo.
. – Peça para ele repetir as seguintes palavras, enquanto coloca a aliança na mão dela:
“Que esta aliança seja o símbolo puro e imutável do nosso amor”.
e) Entregue a aliança do noivo → para a → noiva.
– Peça para ela repetir as seguintes palavras, enquanto coloca a aliança na mão dele:
“Que esta aliança seja o símbolo puro e imutável do nosso amor”.
f) Se na hora da troca de alianças o fotógrafo não conseguiu uma boa imagem, peça para o casal repetir o gesto.
8. COMO ENCERRAR A CERIMÔNIA
a) Após a troca das Alianças, se for possível, peça para o casal se ajoelhar, convide os pais para se aproximarem, peça para que todos estendam sua mão em direção ao altar e faça uma oração pedindo a bênção de Deus sobre o casal.
b) Depois que eles ficarem em pé, declare solenemente: “Na qualidade de Ministro do Evangelho, eu vos declaro marido e mulher”.
c) Espere dois segundos e diga, sorrindo, a frase que todo mundo quer ouvir: “Pode beijar a noiva”.
d) Se o fotógrafo não conseguiu uma boa imagem, peça para o casal repetir o beijo.
Autoria: Pr Ronaldo Franco (aceitamos sugestões para melhorar este artigo)
quarta-feira, 12 de junho de 2019
A Carta à Igreja em Éfeso
A mensagem do Apocalipse foi enviada principalmente “às sete igrejas que se encontram na Ásia” (1:4). Este fato é frisado várias vezes no primeiro e no último capítulos (1:4,11,20; 22:16). Os capítulos 2 e 3 são direcionados especificamente às igrejas, com uma mensagem especial para cada uma delas.
Estas sete cartas seguem a forma de decretos imperiais, começando a sua mensagem com a palavra “diz” (grego, legei). Estas cartas foram escritas num formato padrão (Saudação, Posição de Jesus, Avaliação da congregação, apelo a ação, Promessa de recompensa aos vencedores), mas o conteúdo de cada é específico e fala a respeito das necessidades da própria congregação citada.
Sete Igrejas Independentes
A necessidade de sete cartas bem diferentes reforça a importância de respeitar a autonomia de cada congregação. Estas sete igrejas se encontravam numa área relativamente pequena. Uma pessoa entregando todas as cartas faria um circuito de pouco mais de 500 quilômetros. Nesta área pequena, sete igrejas bem diferentes apresentaram características distintas. Jesus não enviou uma carta “ao bispo da Ásia” (não existia qualquer ofício de líderes regionais entre as igrejas primitivas) para resolver, de uma vez, todas as questões nas várias igrejas. As igrejas não eram subordinadas à autoridade de alguma hierarquia, e não havia laços estruturais entre congregações. Cada congregação era independente, com seus próprios desafios e sua própria personalidade. Cada uma recebeu um comunicado diretamente de Jesus, e lhe responderia diretamente pela sua obediência ou rebeldia. Ele não operou por meio de alguma hierarquia de autoridades eclesiásticas. As pessoas que querem seguir, hoje em dia, as instruções do Novo Testamento devem lembrar este fato. Não há base bíblica para criar ou manter organizações religiosas ligando congregações. As hierarquias nas denominações e as conferências e congressos estaduais, regionais, nacionais e internacionais são invenções de homens sem nenhuma autorização bíblica.
Ao Anjo da Igreja em Éfeso (Apocalipse 2:1-7)
Vamos considerar o conteúdo desta carta. Confira na sua Bíblia cada citação.
A igreja em Éfeso (1): Éfeso era a cidade mais importante da província romana de Ásia. Foi situada perto do mar Egeu. Duas estradas importantes cruzaram em Éfeso, uma seguindo a costa e a outra continuando para o interior, passando por Laodicéia. Assim, Éfeso teve uma localização importantíssima de contato entre os dois lados do império romano (a Europa e a Ásia). Historiadores geralmente calculam a população da cidade no primeiro século entre 250.000 e 500.000. Éfeso era conhecida, também, como o foco de adoração da deusa da fertilidade, Ártemis ou Diana.
Sabemos algumas coisas sobre a história da igreja em Éfeso de outros livros do Novo Testamento. No final de sua segunda viagem, Paulo deixou Áqüila e Priscila em Éfeso, onde corrigiram o entendimento incompleto de Apolo sobre o caminho do Senhor (Atos 18:18-26). Na terceira viagem, Paulo voltou para Éfeso, onde pregou a palavra de Deus por três anos (Atos 19:1-41; 20:31). Na volta da mesma viagem, passou em Mileto e encontrou-se com os presbíteros de Éfeso (Atos 20:17-38). Durante os anos na prisão, Paulo escreveu a epístola aos efésios. Também deixou Timóteo em Éfeso para edificar os irmãos (1 Timóteo 1:3).
Destas diversas referências aos efésios, podemos observar algumas coisas importantes sobre essa igreja. Desde o início, houve a necessidade de examinar doutrinas e aceitar somente o que Deus havia revelado. Assim, Áqüila e Priscila ajudaram Apolo (Atos 18:26); Paulo advertiu os presbíteros do perigo de falsos mestres entre eles (Atos 20:29-31), e orientou Timóteo a admoestar os irmãos a não ensinarem outra doutrina (1 Timóteo 1:3-7). A carta de Paulo aos efésios destacou a importância do amor (5:2), um tema frisado, também, nesta carta no Apocalipse.
Aquele que conserva na mão direita as sete estrelas e que anda no meio dos sete candeeiros de ouro (1): Esta descrição de Jesus vem de 1:12-13,16,20 e mostra o conhecimento e a soberania de Jesus em relação às igrejas. Tanto os efésios como os discípulos nas outras igrejas precisavam lembrar da presença de Jesus. Ele anda no meio das igrejas, observando o procedimento delas, e pronto para agir quando for necessário. Segurando as sete estrelas, ele demonstra seu poder e domínio.
Conheço as tuas obras (2-3): Jesus elogia várias qualidades da igreja em Éfeso:
● Labor e perseverança – Deus quer servos dedicados que não desistem (Tiago 1:4). Jesus falou da importância da perseverança diante de perseguição (Mateus 10:22; veja Romanos 5:3; Tiago 1:12), observando que perseguições causam o amor de muitos a esfriar (Mateus 24:10-13). Devemos perseverar na oração (Atos 1:14; Colossenses 4:2; 1 Timóteo 5:5), na doutrina verdadeira (Atos 2:42; 1 Coríntios 15:1), nas boas obras (Romanos 2:7) e na graça de Deus (Atos 13:43). Na sua perseverança, os efésios suportaram provas e não se desanimaram.
● Não suportar homens maus – Depois de tantas advertências sobre o perigo de falsos mestres, a defesa da verdade se tornou um ponto forte da igreja de Éfeso. Homens que se alegavam ser apóstolos foram postos à prova e achados mentirosos (veja 1 João 4:1). Precisamos do mesmo zelo da verdade hoje. O mundo religioso está cheio de pessoas que se dizem profetas e apóstolos. Devem ser avaliadas conforme a palavra de Deus. Pessoas que alegam trazer novas revelações são mentirosas (Gálatas 1:8-9; 1 Coríntios 13:8; Judas 3). Os apóstolos eram testemunhas oculares de Jesus ressuscitado (veja Atos 1:22; 1 Coríntios 15:8-9). Aqueles que se chamam apóstolos, hoje em dia, são falsos mestres. Não devemos suportá-los.
Tenho ... contra ti (4): O problema dos efésios não foi uma questão de doutrina correta, mas de amor. Abandonaram o seu primeiro amor. Esqueceram dos grandes mandamentos que formam a base para todos os ensinamentos de Deus (Mateus 22:37-40). Paulo instruiu os efésios sobre a importância do amor como alicerce da vida do cristão (Efésios 3:17; 4:2,16: 5:2; 6:23). Não devemos distorcer esta advertência para criar um conflito entre o amor e a verdade. Podemos defender a verdade, como os efésios fizeram e, ao mesmo tempo, praticar o amor. Foi exatamente isso que Paulo pediu aos efésios:“Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Efésios 4:15).
Lembra-te, arrepende-te e volta (5): Jesus pede três respostas dos efésios:
1. Lembra-te, pois, de onde caíste: Não foram as alfarrobas dos porcos que levou o filho pródigo ao arrependimento; foi a lembrança da casa do pai. Para os efésios se arrependerem, teriam que lembrar da comunhão com Deus que deixaram para trás. Para permanecer fiéis, a presença de Deus precisa ser a coisa mais preciosa na nossa vida. Uma vez que caímos, é necessário desenvolver novamente o amor para com ele.
2. Arrepende-te: O arrependimento é a mudança de atitude. Quando decidimos deixar o pecado e fazer a vontade de Deus, nós nos arrependemos. O pecador precisa se arrepender antes de ser batizado para perdão dos pecados (Atos 2:38). O cristão que tropeça precisa se arrepender e pedir perdão pelos seus pecados (Atos 8:22). Aqui, uma igreja cujo amor esfriou-se precisa se arrepender.
3. Volta à prática das primeiras obras: A mudança de atitude (o arrependimento) produzirá frutos (Mateus 3:8). Pelas obras, a pessoa arrependida mostrará a sinceridade da sua decisão. A igreja em Éfeso precisava voltar à prática do amor.
Se a igreja não se arrepender, Jesus removeria o seu candeeiro. Eles não permaneceriam na abençoada comunhão com o Senhor.
Odeias as obras dos nicolaítas, as quais eu também odeio(6): Mais um ponto a favor, reforçando o elogio dos versículos 2 e 3. Os nicolaítas são mencionados somente aqui e na carta à igreja em Pérgamo (15). Não sabemos a natureza precisa do seu erro, mas sabemos que era abominável a Deus. Neste ponto, os efésios odiavam o que Deus odiava. Nós devemos fazer a mesma coisa, sendo amigos do bem (Tito 1:8) e detestando o mal (Salmo 97:10).
Quem tem ouvidos, ouça (7): Freqüentemente, Jesus chama os ouvintes a ouvirem a sua mensagem (Mateus 11:5; 13:9,43; etc.). O problema de um coração teimoso se reflete nos ouvidos tapados que recusam ouvir a verdade (Mateus 13:15). Os efésios provaram aqueles que falavam, agora eles seriam provados pela maneira de ouvirem.
O Espírito diz às igrejas (7): Jesus transmitiu a sua mensagem por meio dos anjos das igrejas (2:1,8,12,18; 3:1,7,14), mas o Espírito, também, participa da revelação (veja 1:4) e da recompensa dos fiéis.
Ao vencedor ... árvore da vida ... paraíso de Deus (7): A recompensa aguarda os vencedores que perseveram no amor e na verdade. Aqueles que desistem, abandonando para sempre o seu amor, não receberão o galardão. Jesus descreve a comunhão com Deus em termos que nos lembram do jardim do Éden. Por causa do pecado, o homem foi expulso do jardim em que Deus andava (Gênesis 3:22-24,8). Aqueles que andam com Deus têm a esperança da vida no paraíso do Senhor.
Conclusão
Uma igreja rodeada por religiões falsas e sujeita à influência de homens maus precisa examinar todos os ensinamentos e rejeitar todas as falsas doutrinas. Mas ela precisa, também, demonstrar o amor verdadeiro para vencer o mal. Devemos amar a verdade, não somente pelo desejo de ser “corretos”, mas porque ela vem do Deus que merece nosso amor. Devemos amar aos outros, porque foram feitos à imagem e semelhança de Deus. “Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros” (1 João 4:11).
– por Dennis Allan
d129
Leia mais sobre este assunto:
Igrejas da Ásia
Sete igrejas diferentes
Um Estudo do Livro de Efésios
A Chave para Herdar a Vida Eterna
A Terceira Viagem Missionária (1)
A Terceira Viagem Missionária (2)
A Segunda Viagem Missionária (3)
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